domingo, 13 de setembro de 2015

Capítulo 1 - A Formatura e a Escolha


Era o final da festa, estourando a última champanhe, dia de formatura.
Os rostos jovens que me acompanharam por estes anos. São os mesmos que amanhã estarão enviando seus currículos, mudando de cidades, construindo famílias, servindo a sociedade.
Ao final de cada festa eu sempre penso quanto tempo ainda me resta mesmo que meu caminho esteja só por começar. Mas quantos jovens se perdem nesse instante, tomam decisões que não poderão mudar ou que influenciarão seu destino para sempre. Uma escolha, é como uma rotatória com várias estradas que levam para lugares distintos.
 Ainda neste dia estava se encontrando o meu caminho com o de quatro pessoas dessa festa.
Ana Clara que sonhava em ser doutora mas se tornou enfermeira. Renato Augusto que o fato de ter o terceiro grau já era considerado um heroísmo em sua humilde família. Flávio que entrou na Universidade pela cota de negros e sentia um desejo de ajudar todos que estavam no país de seus ancestrais, agora que se tornou médico. Emanuel que era um estudante brilhante e recebeu convite para fazer residências em várias instituições. E eu, que apenas virei médico para seguir a hierarquia familiar.
Não eramos muito próximos na Universidade, mas nossos destinos se unirão quando pegamos o mesmo avião. Nosso objetivo era uma breve missão humanitária no Sudão, com prazo determinado de uma semana, tempo suficiente para mudar a nossa forma de ver o mundo. Porém nosso destino mudou quando a iminente guerra fechou os aeroportos por tempo indeterminado dois dias após nossa chegada mudando nossas vidas, sonhos e planos para sempre.... Continua ....

Levo comigo só o que eu precisar.

Eu nem sempre contei com a sorte.
Mas quando ela apareceu eu escapei da morte.
E foi quando me mudei lá pro norte.
O sol batia mais forte na minha porta.
Com gostinho de Graviola.
O céu de Salvador.
Reservava pra mim a lua mais bela.
No caminhar da cinderela.
E o que seria de mim sem seu calor.
No trilho da alma que se encontra.
Se eu pudesse escolher minha casa.
Ela seria de renda.
Se eu pudesse escolher o meu peixe.
Ele viveria solto no mar.
Se eu pudesse escolher onde respirar o ar.
Minha casa seria uma rede onde repousar.
Eu nem sempre pude pensar com clareza.
Meu lugar sempre foi perto da natureza.
Eu nem sempre pude enxergar a beleza.
Que existe no interior de cada coração.
Eu nem sempre contei com a sorte.
De ver beleza no interior de alguém.
Eu nem sempre pude ter alguém pra chamar de meu bem.
Quando entrei na primeira Igreja.
Ainda não entendia o que significava transceder.
Eu ainda não compreendia o que significa se entender.
Eu nem sempre compreendia doar aquilo que eu podia.
Eu nem sempre fui assim, dono de mim.
Muitas vezes eu perdi o jogo pro meu pensamento.
E o meu descontentamento era não poder contar sempre com a sorte.
Mas hoje eu escapei da morte.
E minha casa é de renda.
Minha rede está perto da areia.
Minha varanda é a beira do mar.
Minha prece é fácil de escutar.
Levo comigo só o que eu precisar.
Pra viver meu conto de fadas.


domingo, 30 de agosto de 2015

Traços Singelos

O traço mais simples é o sopro de Deus.
Que é uma nuvem a se mover sobre a terra.
A arquitetura mais bela, é o rosto sofrido do ser humano excluído.
Que luta na senzala.
Pra quem não tem estudo, a escravidão se disfarça de trabalho.
E o cenário é um desenho mais lindo dos traços divinos da sobrevivência.
Num mundo de aparência o simples é o belo.
E aquele que bate o martelo, é que prega o primeiro prego da construção de um prédio.
De um centro cultural, cujo espetáculo atual é a construção de suas vigas.
Como em Romã e seus espetáculos.
Os escravos de suas arenas são construtores e artistas.
Das mais belas obras modernas.
Traços suaves, vem de mãos escravas que recebem seus salários de sobrevivência.
Que vivem construindo a beleza, em um mundo de aparência.
Arriscando suas vidas, em obras magníficas.
Como os traços das nuvens das mão divinas a soprar pro mesmo rumo.
De um mundo que moderno só esconde seus defeitos atrás de preconceitos.
Onde as mãos com calos são as que constroem as obras de concreto.
E a beleza planejada por um arquiteto.
Se mostra viva em sua arte construída.
Que leva em sua obra esculpida os traços de mãos sofridas.
É a beleza da vida.
Que produz o que é belo pelo esforço do mais singelo.

Combustível

Café da manhã tem que ter pão.
Almoço tem que ter arroz feijão.
Mistura é Ovo.
Bebida é Suco.
Carne é peixe.
Nem tudo que é de comer faz bem.
Vai pro sangue que move o corpo pra ir mais além.
Vai pro pensamento.
Coração e sentimento.
Move a razão pro mal ou pro bem.
Faz a direção pro sim ou pro não.
Toma a decisão.
Ninguém dá um passo sem a refeição.
Queijo é leite.
Gordura é óleo.
Batata é frita.
Hamburguer é fast food.
Comer depressa é comer cru.
Caloria demais para o coração.
Aumenta a pressão.
Coração frio, pressão demais.
Cabeça não pensa mais.
Perde a razão.
Vive na solidão.
A vida perde o sentido quando companhia é refeição.
Caloria é feita pra queimar.
A vida não é medida somente pelo tempo.
Mas pelas calorias a gastar.
Energia e sentimento vem do que se põe pra dentro.
Mas o pior mal, não vem do que se consome.
Do que chega de fora pra dentro e sim do que sai de dentro pra fora.
O que sai do coração é que mostra se um homem é bom ou não.
O que se come é apenas combústivel.
Todo carro ruim ou bom precisa de combustão.

A árvore.

Um lápis desenha uma floresta em uma folha de sulfite que já foi uma árvore.
Uma borracha que apaga um traço de uma lágrima de uma seringueira qualquer.
Nas marcas das cascas da pele o desenho de um coração.
Recordação é cicatriz no tronco da árvore, tatuagem de paixão. 
Uma árvore é simbolo de doação, tatua na pele a recordação de outro, produz o fruto e se entrega em doação.
Ás vezes cede a própria madeira e serve de abrigo para uma casa no alto de seus galhos.  Projetada com um lápis no sulfite que brota de sua própria pele.
A origem de tudo vem da mesma madeira.
Toda vida depende de um fruto de uma árvore ou de sua cicatriz. Alimenta o corpo e a alma, vem com o ar, ou carregando o som dos pássaros, que ali fazem seus ninhos.
Toda árvore brota do fruto, todo sulfite produz um projeto, toda árvore forma um objeto.
Todo objeto só tem valor porque faz parte de uma vida e toda vida depende de uma árvore.
Toda árvore é viva mesmo quando morre, porque aí ela se move para ser a mesa de algum lar ou o balcão de algum bar.